terça-feira, 28 de abril de 2009

Chateação

Olá a todos,

Mais uma parte dos tópicos.

"É realmente chato ser alvo de brincadeiras de mal gosto. Quando pequeno eu era baixinho, gordo, de oculos, timido, era o mais inteligente da sala (o que fazia os outros acharem que eu me sentia superior a eles [embora eu nunca soubesse o porque]), não tinha nenhum amigo, era perseguido psicologicamente com brincadeiras. Isso desde a primeira série.

Entretanto aos 10 anos eu ajudava o meu pai no trabalho dele nos períodos de férias. Ele trabalha em um supermercado e eu ajudava a por as compras em sacolas. De tanto fazer isso eu fiquei muito forte para minha idade (na queda de braço eu só perdia para uma pessoa na minha sala e ele era meio metro mais alto do que eu e ainda gerava uma boa disputa). Eu carregava mais de 70kg quando eu pesava menos de 50kg.

Você deve pensar que eles começaram a me respeitar e me temer. Sinto em dizer que você está enganado. Eu podia rachar a cabeça de qualquer um (exeto o cara que era meio metro mais alto do que eu. Cara! Ele era realmente grande, ainda bem que era gente fina...), mas eu nunca me exedi.

Eu nunca quiz retribuir aos meus perseguidores nem um pouquinho da dor psicologica que eles me causavam. Nem mesmo transformar essa minha dor em dor física neles. Isso porque desde pequeno eu sempre soube o quanto isso doía. E não deseja esse tipo de dor para ninguém.

Eu já chorei muito na minha infância. Chorei mesmo e não nego. Sempre na escola. E somente por causa dessas dores psicologicas. Eu não chorei quando esfolei os meus dedos, não chorei quando cai de uma árvore de mais de 8 metros de altura, não chorei quando quase decepei o meu dedinho, não chorei quando estirei os tendões do joelho, não chorei quando o ortopedista disse que eu ia ficar manco e nunca mais correria, pularia ou faria esportes. Só chorava com as dores psicologicas.

Eu não queria retalia-los (eu disse retalia-los e não retalha-los). Eu nunca quiz vingança. Eu nunca me exedi e os agredi por causa dos meus sentimentos. Eu já os odiei, mas sempre soube que era errado.

Eu só me exedi uma vez...

Eu sempre era perseguido pela maioria das vezes por um cara baixinho da minha sala (ele era menor que eu, vê se pode?). Eu estava realmente de mal humor naquele dia...

Naquele dia ele fez uma piadinha sobre mim, era hora do recreio. Alguns estavam na sala e outros estavam fora dela comendo. Eu pensei naquele momento que se todos podiam reagir a insultos, se defender dessas brincadeiras e obter vingança, então porque eu não poderia ter vingança também?! Dizem que é um prato que se come frio, mas eu sempre gostei de sorvete!

Eu me levantei naquele mesmo momento, sem um pingo de medo (eu nunca os temi), eu o peguei pela gola da camisa e comecei a andar na direção da parede. Ele era empurrado para o fundo da sala e ficou estremamente surpreso.

Ele dava olhadelas rápidas para a parede no fundo da sala, olhadelas rápidas, como quem pensa no que vai acontecer quando ele chegar lá. Eu o encostei na parede com um baque surdo das costas dele batendo nela, mesmo eu tendo desacelerado o passo quando cheguei na parede eu ainda bati com ele na parede um pouco forte.

Eu, que até o momento só segurava uma das golas da camisa dele, passei a segura a outra gola com a mão esquerda. Não tive dificuldades de tira-lo do chão (ele pesava uns 40kg e isso eu conseguia carregar sem a mão esquerda).

Até hoje me lembro das palavras exatas que saíram da minha boca:

-É incrivel como alguém consegue fazer piadas sobre uma pessoa que é maior do que você e não tem dificuldade nenhuma em te quebrar como se fosse um graveto. Eu não sei se eu vou me controlar na próxima vez, então ME DEIXA EM PAZ KRA$&¨% !!!

Eu normalmente não me arrependo das coisas que fiz, mas no momento em que eu terminei a frase eu já estava arrependido. Eu vi nos olhos dele o mais puro medo...

Era como se ele achasse que eu não sofria com essas brincadeiras, era como se ele achasse que eu até gostasse de passar por isso. Porque eu vi nos olhos dele, estampada em letras borradas e distorcidas pelo medo que ele estava sentindo:

"Mas.. mas... eu só contei uma piadinha.."

Eu o larguei e percebi que todos estavam me olhando. Com caras que misturavam o espanto, a preocupação e o medo.

"Eles viam o quanto eu sofria, então porque estão achando estranho a minha atitude? Será que não tenho o direito de me vingar?"

Depois disso a minha mente turva quando tento lembrar do que eu fiz depois. Não sei se eu saí da sala e matei o resto da aula ou se eu fiquei lá, sentado na primeira cadeira da fileira do meio. Cadeira esta em que eu sento desde a primeira série. Todos sentam em lugares diferentes quando muda de ano, menos eu. Eu sempre sentei lá.

Eu devia estar tão atento na minha reflexão que não percebi mais nada do que aconteceu naquele dia.

Eu pensava que se alguém ofendia alguém, então ele merecia ser tratado da mesma maneira como ele trata os outros, com ofenças. Mas se isso parece ser tão obvio assim, então porque eu achava lá no fundo que isso estava errado? Não fazia sentido.

Eu entendia perfeitamente o ditado "a vingança é um prato que se come frio", mas não conseguia explicar. Eu me sentia tão mão, não foi tão prazeiroso quanto eu pensava que ia ser. Era como se eu sentisse um gosto amargo na boca. Por mim eu mudaria o ditado para "a vingança é um prato amargo, é ruim de mais, porém as pessoas o comem porque ele tem um bom cheiro e uma boa aparência"...

Eu estava confuso...

Demorei muito para entender aquele sentimento de culpa, mas acabei entendendo. É como assassinato.

Toda vez que um criminoso mata alguém ele cria uma repercursão dos seus atos. Ou seja, em algum lugar do mundo uma pessoa vai dizer "ele merecia morrer, esse assassino!!". Então essa pessoa acaba de criar uma lei no julgamento dela.

"Todo mundo que mata intensionalmente merece morrer".

Mas, de acordo com essa lei quando a pessoa que a criou julgar o assassino e o condenar a morte, então esse juiz (que no caso é a mesma pessoa que disse "ele merecia morrer") é um assassino porque quis a morte intencionalmente de outra pessoa, mesmo que essa seja um assassino. E fadadamente ela também merecia morrer.

Finalmente percebi que agir como aquele cara não me tornava melhor que ele. Na verdade, no momento em que eu utilizei de violência eu era pior que ele.

Então eu percebi que eu nunca fiz nada contra eles porque no fundo eu sempre soube que não precisava fazer isso. Não precisava pedir ajuda a ninguém. Não precisava encher a cabeça dos meus pais com isso dando para eles mais problemas. Sempre sobrevivi sem amigos que me protegessem. Eu percebi que eu consegui fazer isso tudo porque eu era uma pessoa forte. Forte de espirito, alma e corpo.

Eu sofria aquilo tudo sem pedir ajuda porque eu era forte. Teria sido mais simples se eu tivesse conversado com os meus pais, mas eu não queria dar problemas para eles e resolvi resistir porque no fundo eu chorava e sofria mas era forte o suficiente para superar isso.

Não me arrependo nem um pouco da infância que tive. Mesmo na escola, sem amigos e sendo chateado todos os dias eu consegui ser feliz. Eu adorava estudar. Conheci o prazer de ler. Devorei toda a biblioteca da escola de livros infanto-juvenis. E hoje estou aqui no forum.

Depois de um tempo descobri que o baixinho era filho de pais divorciados. Ele vivia com a mãe e a irmã dele vivia com o pai. Eu sabia que isso era uma barra para ser enfrentada. E entendi no fim o porque de ele me chatear tanto. No fundo ele queria mostrar que era forte, mais forte que outra pessoa. E para isso abusava de alguém que parecia ser mais fraco (eu) para parecer mais forte para os seus amigos (também da minha classe). No fundo o fraco era ele...

Depois de um tempo ele começou a fazer todas aquelas brincadeiras de mal gosto de novo. Vendo que eu não mais reagia. Mas não tinha problema, depois que eu finalmente entendi a mente daquele que me atormentava eu percebi que era fácil derrota-lo.

Uma piada não tem graça se ninguém ri. Então não tem a minima graça fazer piadas e brincadeiras com alguém que não se importa de ser alvo delas. Quando ele me fazia essas piadas eu não queria demonstrar que eu ficava chateado. Mas acabava mostrando. E isso estimula as pessoas a continuarem a fazer esse tipo de piadas.

Depois desse dia eu passei a me importar menos com problemas pequenos que eu considerava grandes. Esses tipos de piadas passaram a não me incomodar mais (por mais que muito ofensivas). E isso tirou a graça de faze-las comigo.

Eu meio que perdi a graça de ser debochado pelos outros.

Depois disso (uns dois anos mais tarde) entrou na minha sala um aluno novo. Ele era inteligente, mas parecia tímido (como toda pessoa que muda de uma escola para outra. Eu também mudei de escola. Eu tinha feito parte da primeira série em outro estado e nessa outra escola eu era muito popular).

No primeiro dia eu logo percebi que ele ia ser o novo esculachado da turma. E não demorou muito para nos tornarmos amigos. E com a convivênvia ele aprendeu também a não dar importância as brincadeiras de mal gosto e passar a encara-las com bom humor (você pode rir quando você é a piada, é bem melhor do quer ficar com raiva porque isso estimula novas piadas sobre você).

No fim de tudo eu até virei um bom amigo do baixinho enche sac#. Ele não era má pessoa. Só não percebia o quanto as piadas deles me machucavam.

O conselho que eu posso te dar meu bom amigo é que você veja o mundo com outros olhos e procure não dar trela para outras pessoas que querem te magoar. Existem pessoas que realmente sentem prazer em magoar os outros. Existem pessoas que não conseguem suportar esse tipo de coisa. Eu lhe recomendo nesses casos falar com os seus pais e se abri com eles. Eles sempre irão te ajudar.



E aqui eu termino a minha historia de hoje."

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