quinta-feira, 23 de julho de 2009

Romantismo

Olá a todos,

Esse é um dos tópicos lá do PDL. Eu achei interessante e resolvi postar aqui também.

Me perguntaram se eu era romântico e eis aí a minha resposta:

Bem... em relação ao ser romântico... deixa eu pensar... é... pensando bem... eu acho que sou um romântico sim... se não fosse eu acho que não conseguiria colocar tanta paixão naquilo que eu escrevo. Não conseguiria olhar para lua e perceber que ela está mais acolhedora do que na noite anterior (mesmo ambas parecerem iguais). Não conseguiria me sentir cansado depois de um dia de trabalho e querer me sentar em uma cadeira de balanço no meio de uma noite escura no meio do quintal e desligar as luzes da casa somente para poder relaxar e escutar o barulho que o vento faz quando acaricia as folhas das árvores e beija as flores das plantas. Não conseguiria parar para ver o quão trabalhoso é a caminhada de uma simples formiga que atravessa alguns metros de seu formigueiro até uma planta e não conseguir deixar de admirá-la quando ela novamente sai do formigueiro para repetir essa exaustante e enfadonha rotina e lembrar de pessoas que reclamam que não gostam de se levantar da cadeira para trocar de canal (é em uma situação como essa que eu vejo o quanto a humanidade tende a regredir...) e finalmente eu acho que sou um romântico porque apesar das decepções que a vida nos dá, apesar das rasteiras que você recebe, apesar das pessoas ficarem a cada dia que passa mais e mais temerosas em relação a ambição, raiva, medo e angustia que envenenam o coração humano, apesar do mundo estar morrendo com a poluição, apesar da natureza estar se revoltando contra a vida com suas tempestades, tornados, enchentes e desgraças, apesar da vida nova que nasce a cada dia em um corpinho frágil de um bebê estar condenada a viver em um mundo que está gradativamente destruindo o seu futuro e apesar das pessoas cada vez menos acreditarem que o amor existe no coração de cada um eu ainda consigo acordar todo dia de manhã e reclamar que ainda é muito cedo para se acordar e que a única coisa que me faz levantar da cama e encarar o chuveiro cuja a água é mais fria que o sangue que passa pelo coração de uma serpente no pólo norte É QUE EU VOU VIVER MAIS UM DIA!!

Hoje em dia as pessoas contam o tempo mais do que contam o dinheiro que recebem como salário. Elas normalmente iniciam a semana já contando quantos dias irá demorar até chegar o próximo fim de semana. Elas entram em seu trabalho e/ou escola pensando em quanto tempo irá demorar até elas chegarem em casa. Elas contam quanto tempo ainda tem de horário de almoço e reclamam arduamente quando este acaba e elas tem que voltar para o "inferno" que é a vida. Elas estão começando até a contar quanto tempo demora a sua diversão! Antes de ver um filme elas precisam saber quanto tempo ele demora. Antes de ler um livro elas primeiro vêem quantas páginas ele tem. E até mesmo quando colocam uma pipoca no microondas elas esperam em frente ao microondas até o tempo acabar, ou então ficam andando de um lado para outro e ficam dando olhadelas para o monitor do MC para ver quanto tempo falta.

O que as pessoas de hoje esqueceram é que o tempo que elas perdem contando o tempo poderia ser aproveitado de outra maneira. Eu pessoalmente não fico contando o tempo quando estou trabalhando, eu procuro aproveitá-lo ao invés disso. Eu não fico a toda hora olhando o relógio, eu procuro me divertir com o meu trabalho e procuro interagir com os meus colegas para que assim o meu trabalho seja tão animado que o tempo passe sem que eu perceba. Quando eu coloco uma pipoca no microondas eu nem me importo em ficar olhando quanto tempo falta para ela ficar pronta (exceto quando eu estou no cinema e o filme já está quase começando, aí eu fico feito um muleke pidão olhando para aquele timer e pensando “vai mais rápido criatura porque o inicio do filme é tão importante quanto o meio e o fim...”) eu vou ver os outro canais (eu normalmente faço pipoca em casa para assistir algum DVD) e vejo o que vai passar na TV e as vezes eu acabo assistindo um filme que está passando na TV para só depois começar a assistir o DVD (e em alguns casos eu também acabo esquecendo que tem pipoca pronta e quentinha no microondas...). Eu não me importo em saber quanto tempo um filme tem ou quantas páginas um livro possuí, na verdade enquanto eu leio um livro eu fico querendo que ele dure mais do que deveria porque como eu leio rápido eu acabo lendo ele em poucas horas e eu fico com aquela vontade de ler outro (quando eu li o “Príncipe Mestiço” eu fiquei doído para ler “As Relíquias da Morte” e mal consegui esperar o tempo passar...).

O que eu quero dizer é que as pessoas estão contando o tempo e estão se esquecendo de “aproveitar” o tempo! Enquanto elas ficam contando as horas o tempo continua a correr e se você não aproveitá-lo ele irá passar e você viverá apenas uma parte da vida e chegará a velhice com aquela sensação de que não viveu muito e que poderia ter feito muitas coisas as quais não fez!

Para aqueles que estão pensando “E o que isso tem haver com Romantismo?”. Eu só posso dizer que isso tem tudo haver com o Romantismo. O romântico é aquela pessoa que vê o amor em tudo e em todos e que não se deixa se desanimar pela tristeza daqueles que estão ao seu redor porque ele sabe que o dia que você vive hoje somente será valoroso se você lutar por ele. Se você simplesmente esperar que a alegria venha até você então você jamais irá encontrá-la porque ela está naquilo que você ama e gosta de fazer. E essas coisas não são jogadas em cima de você com quem fala “toma esse alegria de viver para você se sentir melhor!” e eu acredito que se isso acontecesse você não valorizaria essa dádiva e é por isso que se você não lutar por aquilo que deseja o seu trabalho irá continuar chato, o livro vai continuar muito grande e a pipoca vai continuar a demorar horrores para ficar pronta (exceto na situação do cinema... nessas situações ela sempre demora e sempre tem um cara que está na sua frente e vai comprar umas cinco pipocas!!).

Espero que todos comecem a aproveitar melhor o seu tempo porque eu já estou aproveitando o meu para imortalizar os meus pensamentos... (TRADUÇÃO: eu vou colocar isso aqui lá no Blog!!).

Chiclete no Shopping

Olá a todos,

É engraçado como coisas pequenas podem desencadear coisas muito grandes, as vezes é preciso um aglomerado de coisas pequenas para se criar algo muito grande, em outras ocasiões algo muito pequeno já é mais do que suficiente para desencadear uma desgraça. E vai ser sobre isso que eu vou escrever essa semana... sei lá... hoje está parecendo que eu estou sendo objetivo demais... normalmente eu gasto umas duas páginas só para dar uma introdução...

Muitos já ouviram falar do efeito “bola de neve” que ocorro quando jogamos uma bolinha de neve pequena de cima de um morro e na medida em que ela vai rolando morro abaixo ela vai coletando mais neve por onde passa (pois o chão está cheio de neve) e concomitantemente ela vai ficando maior e maior até chegar em dimensões onde poderia facilmente causar uma desgraça... matar o gato do vizinho por exemplo... ou matar o próprio vizinho...

O curioso é que eu já adicionei “fazer uma bola de neve e empurrá-la do morro mais alto das redondezas” na minha lista de “coisas para fazer pelo menos uma vez na vida”. Esse item está bem perto de “fazer um boneco de neve”, “praticar snowboard e esqui”, “comer chocolate quente em frente a uma lareira”. É estranho querer fazer a bendita bola de neve mesmo sabendo que ela pode matar um povoado inteiro (principalmente se for jogada de cima do Everest). Mas as pessoas normalmente não ligam para o perigo, desde que em troca você receba uma quantidade maior de diversão. Se todo mundo ligasse mais para o perigo (e possíveis conseqüências) ninguém morreria de doenças do coração causadas por má alimentação, ninguém brincaria de paintball com medo de levar uma bolinha de tinta disparada em alta velocidade para dentro do nariz (sem falar que existe uma conexão entre o nariz e o cérebro [era por essa conexão que os antigos egípcios enfiavam um ferro em brasas para derreter o cérebro e coloca-lo em um jarrinho {obviamente o cara já estava morto e sem as tripas, essas era colocadas em uma banheira cheia de sal, ervas aromáticas e outras coisinhas e depois de 30 dias era colocadas de volta na barriga do defunto}]), é engraçado como ainda existem pessoas que jogam paintball sem proteger o nariz... Em compensação é graças a essa regra estranha ( muito divertimento + perigo de morte = não tem problema desde que tenha “muito divertimento” ) que existe o bungee jump, a montanha russa, a roleta russa e as brigas com facas.

Enfim, eu estava falando sobre pequenas coisas que geram grandes conseqüências. E a minha historia começa quando eu fui comprar uns chicletes. Eu não imaginava o que se pode acontecer quando você inocentemente compra chicletes. E assim sendo eu saí de casa e fui comprar os chicletes (somente eu acho estranho sair de casa e andar dois quarteirões somente para comprar uns chicletinhos?!). Eu gosto muito dos bigbig (marca de chiclete em forma de cubo), principalmente do de hortelã. Eu comprei um real de bigbig (uns 10) e estava mascando um quando voltei para casa para ir assistir um filme com a minha irmã. Quando esse bigbig tinha perdido o gosto eu joguei ele fora e ofereci um para a minha irmã. Quando eu coloquei o meu na boca eu vi na embalagem do chiclete um cara que tinha um recorde da maior bola de chiclete do mundo. Eu pensei que seria legal eu tentar também, então coloquei o resto dos bigbig na boca e comecei a mascar.

Já dentro do Shopping (pois o cinema fica dentro do Shopping) eu percebi que não poderia tentar criar a maior bola de chiclete do mundo se eu estava em um lugar publico, então eu decidi jogar fora o chiclete, até porque eu não poderia mascar chiclete e comer pipoca ao mesmo tempo. O problema começou aí.

Lá estava eu me preparando para jogar o chiclete fora no lixeiro quando eu me lembrei que o lixeiro que eu escolhi para jogar o chiclete fora ficava na frente do BOB’s do Shopping. E todos os clientes poderiam ver o momento quando eu ia jogar o chiclete fora. Obviamente isso não parece ser um agravante tão grande... só que eu me peguei pensando “qual seria a maneira mais educada de jogar um chiclete fora?!”.

Eu tinha um amigo que estava gripado e toda a vez que ele tinha que jogar o catarro fora ele se encaminhava da cadeira dele que ficava no fundo da classe para o lixeiro que ficava na frente da classe. Ao lado do lixeiro ele inchava os pulmões e soltava o ar pela garganta criando um atrito entre as paredes da garganta fazendo com que todo o muco (catarro) que estivesse acumulado ali durante horas saísse pela saída de cima (boca) e ele cuspia no lixeiro (para quem tiver fazendo cara de nojo eu só posso falar que é mais nojento engolir o catarro). E o pior é que ele não cuspia o catarro! Ele inclinava a cabeça lentamente em direção ao lixeiro e soltava o catarro aos poucos pela boca, criando um fiozinho de catarro e cuspe que ligava a bolota de catarro a boca dele. E parecia que ele estava ficando bom nisso. A cada dia que passava ele conseguia fazer o fiozinho ficar cada vez maior, fazendo parecer que a bolota de catarro estava praticando bungee jump.

Eu via aquela cena e via a cara de nojo de todos ao redor e ficava pensando se o certo seria engolir o catarro ou cuspi-lo no lixeiro.

Cada qual tem suas vantagens e desvantagens. Quando você engole o catarro você pode fazer isso de uma maneira com que ninguém perceba. Mas você nunca se perguntou quanto tempo demora para o estomago jogar fora esse catarro?! Eu ficava imaginando a pessoa engolindo e engolindo cada vez mais catarro e criando uma verdadeira sopa de muco no estômago. Sem falar que você poderia passar mal e vomitar tudo, ou seja, além de todos verem o seu almoço misturado com aquela gosma verde (que de tão verde, falta brilhar no escuro...) você estaria engolindo o catarro pela segunda vez (só que pelo sentido contrário...). E ainda fica pior!!

Quem já vomitou ao menos uma vez na vida, sabe perfeitamente que a boca fica com gosto de vômito por um bom tempo. E imagina só como deve ser o gosto de vômito misturado com catarro?! Deve ser horrível. Mas na verdade, eu acho que vomitar o catarro pode ser uma alternativa melhor do que deixar que ele siga o seu caminho.

Eu digo isso porque o próximo destino dele depois do estômago é o intestino. Claro... algumas pessoas podem pensar que não é tão ruim você ficar com o intestino cheio de catarro, já que ele normalmente é cheio de coisas piores e você nunca se importou com isso, certo?! ERRADO!!

A função do intestino é absorver. E ele absorve de tudo!! Menos fibras (que é o principal elemento formador das fezes [Se você não odiava, agora você vai odiar ouvir a sua mãe dizer que você tem que comer mais fibras... e sem falar na propaganda do iogurte “corpus”...]). E como você já deve estar imaginando... o intestino provavelmente vai absorver o catarro. Eu aposto que agora vocês não devem achar tão ruim a idéia de jogar fora o catarro...

É claro que o ponto negativo que jogar o catarro fora é que você deve faze-lo quando ninguém estiver olhando, o que atualmente é impossível já que tem gente pondo câmeras até dentro do carro.

Vocês devem estar se perguntando “Qual a relação entre o catarro do garoto aí da historia com o chiclete do inicio da historia?”, caso essa pergunta não tenha passado pela mente de vocês eu devo dizer que vocês estão acompanhando a historia da maneira certa... enquanto eu que voltei a escrever agora me perdi todinho (eu estava escrevendo esse artigo até fazer uma pausa. Durante essa pausa eu fui tomar um pouco de água e comer alguma coisa e acabei ligando a TV. Estava passando um bom filme e resolvi assistir uma parte. O tempo foi passando e eu acabei assistindo o filme todo e fui jogar um pouco. Depois de algumas horas eu fui fazer outra pausa e no caminho eu percebi que o computador estava ligado e eu me lembrei que eu estava no meio do artigo para o blog. Eu queria continuar mas já tinha perdido a motivação para escrever e a pausa acabou virando uma interrupção...).

Depois de reler alguns parágrafos e me atualizar... eu estava pensando na maneira mais educada para se jogar um chiclete fora. Primeiro eu pensei em como normalmente eu jogaria um chiclete fora. Vejamos... eu normalmente posicionaria minha cabeça em cima do lixeiro inclinando ligeiramente minha coluna. Depois eu olharia o lixeiro virando a minha cabeça para baixo deixando-a em uma posição horizontal. Depois de calcular a velocidade do vento e fazer os acertos adequados eu simplesmente abriria a boca e deixaria o chiclete rolar para fora e fazer um trajeto alucinante em queda livre da minha boca para o lixeiro. Esse é o meu método padrão.

Porém sempre tem aqueles lixeiros que possuem entrada lateral, como aquelas latas de lixo que é toda fechada e tem uma portinhola no lado, normalmente encontrada nas ruas. O meu primeiro pensamento quando eu lembrei desse tipo de lixeiro foi “Mas porque diabos alguém ia fazer um lixeiro com a entrada pelo lado!?”, mas depois de pensar um pouco eu percebi que essa entrada lateral é estratégica para que não caia água dentro do lixeiro quando este estiver exposto a chuva e por manter o lixeiro sempre fechado essa entrada evita que ele exale o mal cheiro. Felizmente o lixeiro do shopping é do tipo que é aberto em cima. Na verdade o lixeiro do shopping é trabalhado em madeira e plástico fazendo dele um lixeiro muito bonito por sinal dando um ar bucólico para o ambiente...

Vendo por esse ângulo eu acabei percebendo que esse método era satisfatório e eu já estava quase iniciando a operação “jogando o chiclete fora” quando eu percebi um pequeno detalhe que me havia fugido a mente. Eu estava mascando uma boa quantidade de chicletes ao mesmo tempo e este já estava ocupando boa parte da minha bochecha (na verdade eu já estava quase mastigando de boca aberta... poxa... agora me deu uma saudade da minha juventude... era cada idéia louca...). Imediatamente após eu me lembrar desse fato eu relembrei a historia do garoto gripado e percebi o quanto uma bolota de chiclete poderia se parecer com uma bolota de catarro... e se você imaginar a cena você terá de concordar que ela é bem ridícula.

Vamos fazer uma pequena pausa (não para tomar um pouco de água senão esse tópico não vai ver a luz do dia nunca...) para imaginar a cena. Como um bom narrador eu vou lhe ajudar a ter uma pequena idéia do que passou pela minha mente naqueles segundos. Eu sou uma pessoa detalhista e desde a minha juventude eu sempre tive o dom do pensamento... na verdade eu sempre fui capaz de ir para o mundo da lua e prestar atenção no que alguém falava... e esse é um dom extraordinário se você se lembrar o quanto pode ser enfadonho uma conversa com alguém que você não gosta e/ou sobre um assunto que você não se interessa. Imagine só a possibilidade de poder devanear em sua mente um dos vários assuntos que você poderia estar pensando enquanto escuta alguém falar de algo que você não está interessado em ouvir, mas por motivos diversos não quer falar isso diretamente para a pessoa que está falando. Na medida em que eu envelheci eu percebi que eu ficava cada vez melhor nisso. Eu conseguia pensar em vários assuntos muito rapidamente e foi graças a essa habilidade que eu consegui pensar nesse texto todo em poucos segundos e ao mesmo tempo pude pensar em como poderia ser a situação de quem estava comendo, já que é por causa deles que tudo isso começou.

Imagine que você, meu caro leitor, está com fome e resolve comer uma bela refeição no Bob’s. Eu particularmente aconselho a comprar um milkshake porque eu já comi aqueles sandubas do Bob’s e eu achei decepcionante. Aqui onde eu moro em cada esquina tem uma barraquinha que vende sanduíche e em boa parte delas as refeições são deliciosas. Isso porque eles se preocupam em sabor enquanto o que eu comi no Bob’s foi um sanduba em um pão enorme com um monte de ingredientes gigantes... isso tudo banhado em molho de soja... (glutamato monossodico...). Eu além de não gostar do sabor, do aroma e da aparência (porque ele na foto é uma maravilha, mas ao vivo é um monte de ingredientes jogados de qualquer jeito por alguém que não tem sentimento pela culinária...) ele ainda por cima não cabe direito na boca, é muito caro e te lambuza todo com molho shoyo.

Continuando... Você resolve comprar o sanduíche (já que assim fica melhor para dar um bom exemplo do que passou pela minha cabeça naquela hora). Você é atendido por uma jovem simpática que fica no caixa e espera um tempo que pode ser longo ou muito curto dependendo do movimento da lanchonete e do estado de humor do chapeiro... e finalmente depois de uma eternidade chega a bendita comida, algumas pobres criaturas ainda precisam esperar em pé porque já não tem mais mesas e o Bob’s do shopping não fica perto da praça de alimentação, por motivos que até hoje eu desconheço e ignoro. Mas hoje você consegue uma mesa e se senta naqueles bancos fixos que ou te deixam longe demais da mesa onde você precisa entortar a sua coluna até os seus ossos comecem a doer e te ameaçarem de uma futura hérnia de disco ou te deixam tão próximos da mesa que você precisa comer com os braços colados ao corpo e você fica se sentindo como um pingüim com aqueles bracinhos curtos que não servem para fazer nada. E o pior acontece quando você cresce muito rapidamente e em uma hora você precisa se esticar para alcançar a comida e em menos de um ano você está se sentindo como um pingüim e ao mesmo tempo suas costas doem por causa da hérnia de disco.

Mas isso não é nada que vá tirar o seu bom humor (que já não está TÂO bom assim por causa da comida, da fila, da espera e da mesa...). E lá está você no momento do juízo final diante do réu (comida) e você se sente poderoso sendo você o advogado, juiz e carrasco daquela presa que te fez esperar e sofrer nas mãos de uma multinacional (podendo ser também o restaurante da praça de alimentação...). Você até que gostaria de que ela ainda estivesse viva para olhar nos seus olhos e ver os pedidos mudos de suplica que te estimulariam ainda mais a come-la e se deliciar com o seu sabor que foi temperado com a vingança!! HUHAHAUHUAHAUHAUHAUHAUA!!

Ah... a primeira mordida... você se prepara para o ato que consagrará o fim da existência daquela refeição que te custou tanto de sua saúde mental e física e ainda poderá de dar um belo de uma artéria entupida... você o agarra enfiando as unhas pelo plástico/papel e sentindo o pão ceder a pressão de seus dedos e sabe que não importa o quanto ele se debata em suas mãos ele não vai escapar. Você o levanta bem devagarzinho em direção a sua boca, bem devagarzinho para sentir toda a emoção que aquele momento lhe proporciona... você já está escancarando a sua boca sentindo a saliva fluir solta pelos seus dentes e se prestar bastante atenção poderá ouvir o rugido do seu estômago que já está ansioso pela sua próxima vitima... até que você tomada pelo êxtase olha para frente e presencia aquela cena... um cara mexendo e remexendo algo dentro da boca com a língua... aquela cena te atraí por algum motivo... talvez a curiosidade de saber o que é aquilo que ele está fazendo... por que alguém estaria parado na frente de uma lixeira ao lado de uma menina fazendo algo estranho com a boca... você já até esqueceu a sua comida e instintivamente está abaixando os braços e deixando que ela viva um pouco mais... mas parece que sua curiosidade já vai ser morta porque ele se inclinou em frente a lixeira e está abrindo a boca... o que é aquilo que ele vai fazer?! De repente você se depara com uma bola enoooorme de aspecto suspeito e VERDE!! Meus Deus do Céu!! Aquilo ali é catarro?!

NÂO!! DEFINITIVAMENTE NÃO!! Não serei eu a interromper um ritual de matança por ódio e vingança!! Se eu simplesmente jogasse o chiclete fora eu poderia ser o responsável por várias pessoas desistirem de comer por perder o apetite e isso definitivamente não é nada bom. Então eu pensei em outros métodos de se jogar o chiclete fora... eu pensei em pegar com a mão e joga-lo no lixo, mas para isso eu precisaria de um guardanapo... mas isso poderia piorar ainda mais a situação porque daria asas a imaginação das pessoas...

-O que era aquilo que ele tirou da boca?!

-Parecia que o guardanapo estava com sangue...

-Ele é tuberculoso!?

-Putz... perdi o apetite...

Talvez eu devesse... ou tentasse... não importava o quanto eu pensasse as idéias eram piores e piores... Então eu percebi que se eu vivesse pelo o que os outros pensassem sobre mim eu nunca iria comer pipoca...

Eu estufei o peito de ar e me aproximei do lixeiro... e já não era hora porque a minha irmã já estava ficando impaciente... eu inclinei a cabeça e deixei o chiclete rolar pela minha boca com um leve impulso da minha língua e grudar nos meus lábios... grudar nos meus lábios!? P!@)@&$(*&#)(*$&@)(*#$@&!

Lá estava eu com aquela bolota de chiclete grudada nos meus lábios... eu pensei rápido e percebi que deveria joga-la fora antes que o pior acontecesse. Eu comecei a usar a língua para tentar desgrudar ela dos lábios e eu já estava parecendo um ator pornô e não conseguia desgrudar aquele chiclete da boca. Tive que fazer a mesma coisa que o cara do filme pornô faria caso a língua não desse certo... eu tive que usar os dedos... (putz... ô comparação cretina...)

Eu tirei o chiclete dos lábios com a ponta dos dedos e como quem já me conhece de longa data já deve ter imaginado a p%$@ do chiclete grudou nas minhas mãos e eu já tinha até pensando em usar a mão esquerda para limpar a barra da mão direita, mas esses muitos anos de dores já tinham me ensinado que “sempre pode piorar” e eu já me imaginava como aqueles desenhos animados quando resolvem brincar com cola rápida e acabavam presos em um emaranhado de fios de cola. Eu teria que resolver isso somente com a mão direita e com menos dedos o possível.

A bolota ficou presa no indicador e eu estava usando o polegar para tira-la. E lá estava eu tirando o chiclete do indicador só para ver ele grudar no polegar... E eu já estava entretido naquela batalha épica quando eu dou uma olhadela para o lado e percebo que minha irmã já estava morrendo de rir e se afastando aos poucos... família é tudo igual mesmo... e eu juro que naquele momento me faltou forças para dar uma olhada no Bob’s e averiguar se alguém estava olhando... eu percebi que aquilo já estava durando muito e resolvi esfregar o dedo na beira do lixeiro para grudar o chiclete ali (no saco plástico do lixeiro...).

Vocês podem acreditar que a criatura ainda me deixou um fiozinho de chiclete de ligava descaradamente o meu dedo ao lixeiro me obrigando a passar o meu dedo uma segunda e terceira vez para me ver livre daquele chiclete?! Depois de tudo isso eu ainda fui ao Bob’s com a dignidade de um rei pegar um guardanapo para limpar a mão e fiz questão de jogar no mesmo lixeiro que ficou o chiclete... embora eu não tenha tido coragem de olhar na cara de ninguém que estava comendo com medo de que me mandassem aquele olhar fulminante dizendo “acabou com a minha alegria...”